O QUE É
Embora a surdocegueira possua duas deficiências associadas - a surdez e a
cegueira - não se trata da somatória de ambas mas uma deficiência única que
apresenta características peculiares como graves perdas auditiva e visual,
levando quem a possui a ter formas específicas de comunicação para ter
acesso a lazer, educação, trabalho e vida social. Não há necessariamente
uma perda total dos dois sentidos. No Brasil há hoje cerca de 250 pessoas
com surdocegueira (fonte: Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e Múltiplo
Deficiente Sensorial)
.
TIPOS DE SURDOCEGUEIRA
A surdocegueira pode ser identificada como sendo de vários tipos:
• cegueira congênita e surdez adquirida
• surdez congênita e cegueira adquirida
• cegueira e surdez congênitas
• cegueira e surdez adquiridas
• baixa visão com surdez congênita
• baixa visão com surdez adquirida
CLASSIFICAÇÃO
As pessoas que possuem surdocegueira podem ser classificadas de duas
formas: pré-linguísticas e pós-linguísticas. O surdocego pré-linguístico é
aquele que nasce surdocego ou adquire a surdocegueira ainda bebê, antes da
aquisição de uma língua, apresentando graves perdas visuais e auditivas
combinadas. Essas pessoas apresentam dificuldade de compreensão do universo
que as cerca, devido a ausência da luz e do som. Possuem a tendência de se
fecharem em si, isolando-se.
O surdocego pós-linguístico é aquele que apresenta uma deficiência
sensorial (auditiva ou visual) e adquire a outra após a aquisição de uma
língua (portuguesa ou de sinais), ou adquire a surdocegueira, após já comunicar-se
por algum idioma, sem portar nenhuma deficiência anteriormente.
O QUE CAUSA
Doenças contraídas na gravidez, como rubéola, toxoplasmose e
citomegalovírus podem causar surdocegueira na criança. Síndromes como a de
Usher (degeneração da retina em função de retinose pigmentar) também são a
causa. Nesse caso, a origem é genética, ou seja, nasce-se com a síndrome
que se manifesta na infância ou mais tarde. Muitas pessoas nascidas surdas
podem ser portadoras da síndrome de Usher e apresentar perda gradativa da
visão na adolescência ou maturidade. A retinose pigmentar, que gera perda
visual progressiva, também pode estar associada a outras síndromes, mas a
mais conhecida é a de Usher. Abuso de álcool e drogas por parte da
gestante, caxumba, meningite, acidente vascular cerebral (AVC), sífilis
congênita, herpes, aids e hidrocefalia, entre outros, também podem causar
surdocegueira.
PREVENÇÃO
Uma das formas de prevenção da surdocegueira é pela vacinação contra
rubéola antes da gravidez. A síndrome de Usher e outras que provocam
surdocegueira não podem ser prevenidas por serem genéticas, mas é possível
atuar preventivamente no aspecto emocional de adolescentes e adultos que
possam adquirir a surdocegueira. Ou seja, é possível preparar o portador de
deficiência sensorial que pode vir a adquirir outra deficiência (perda de
visão ou audição) a aceitar e aprender a lidar com a nova condição,
minimizando os efeitos psicológicos decorrentes das perdas.
COMO SE MANIFESTA
A surdocegueira adquirida manifesta-se pela perda progressiva da visão e da
audição, ou de um dos dois sentidos quando o outro já está comprometido;
dificuldade de percepção de proximidade das pessoas, não percepção de
objetos que caem, dificuldade de participação em conversação ou jogos
coletivos. A surdocegueira congênita manifesta-se pela "ausência"
da criança do mundo externo, ou seja, falta de percepção de movimentos
externos, movimentos das mãos muito próximo dos olhos, podendo ser
confundida com deficiência mental, devido ao isolamento imposto pela
ausência de luz e de som.
REABILITAÇÃO E COMUNICAÇÃO
A reabilitação ou habilitação de pessoas surdacegas varia de acordo com a
origem da deficiência (congênita ou adquirida) e está centrada
principalmente nas formas de comunicação possíveis para viabilizar sua
autonomia e inclusão social. São vários os recursos utilizados, entre os
quais: objetos de referência (por associação a fatos cotidianos), desenhos,
movimentos corporais, expressão facial, língua de sinais tátil (conversação
por sinais através de toque), alfabeto manual tátil (desenho de cada letra
do alfabeto na palma da mão), tadoma (compreensão das palavras pela
percepção da vibração da voz através de toque próximo dos lábios ou das
cordas vocais), leitura labial (quando há resíduo visual), sistema braile e
guia-intérprete.
A princípio, uma criança com surdocegueira congênita é tão isolada do
universo que a circunda que os familiares podem considerá-la portadora de
deficiência mental, mas a dificuldade de aproximação se dá pela dificuldade
de comunicação pelas formas convencionais. Quem cuida de uma criança
surdacega deve buscar meios alternativos de comunicação e procurar
desenvolver nela seu potencial de evolução, quebrando a barreira do
isolamento.
Iniciativas voltadas para o
surdocego
Existem
no Brasil algumas instituições e pessoas empenhadas em promover a inclusão
social de quem possui surdocegueira. Entre elas encontram-se: Associação
Brasileira de Pais e Amigos dos Surdocegos e Múltiplos Deficientes
Sensoriais (Abrapascem), Associação Brasileira de Surdocegueira (Abrasc),
Associação para Deficientes da Áudio Visão (Adefav - dirigida pela primeira
educadora de surdocegos no Brasil, Ana Maria de Barros Silva), Ahimsa -
Associação Educacional para Múltipla Deficiência, Escola Anne Sullivan, Instituto
Benjamin Constant, Centro de Treinamento e Reabilitação da Audição
(Centrau) e Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente
Sensorial (congrega profissionais, instituições, pais e surdocegos), Centro
de Integração Vítor Eduardo (Cive), entre outras.
No Rio Grande do Sul há um trabalho intenso desenvolvido por Alex Garcia,
26 anos, surdocego desde a adolescência, e pós-graduado em Educação
Especial. "Quando me perguntas o que ensino, poderia dizer que de tudo
um pouco, com muita experiência própria aliada a metodologias e propostas
específicas nas diversas áreas de deficiência, buscando melhorar a
qualidade de vida daqueles que são portadores da deficiência", resume.
Em São Paulo, a Ahimsa presta atendimento a surdocegos e portadores de
múltipla deficiência sensorial, com distúrbios de linguagem e de
comportamento, associados a surdocegueira. Ahimsa significa, em sânscrito,
"não-violência". A diretora educacional da instituição, Shirley
Rodrigues Maia, estende esse significado a todo tipo de não-violência, a
começar pelo respeito à liberdade de escolher comunicar-se da forma que
convier à condição de cada pessoa.
"A surdocegueira é uma deficiência que, combinando-se as perdas visual
e auditiva, acaba trazendo problemas sérios de comunicação, locomoção e
interação. Mas não há limites para o ser humano e o surdocego mostra que a
comunicação pode ser simples, bastando ter tempo, perseverança e
compreensão do outro", afirma.
Shirley lembra que, no Brasil, a educação de surdocego existe há 30 anos,
mas só a partir de 1990 houve um impulso devido a apoio de instituições
estrangeiras, como a Sense Internacional Latino América e a Perkins School,
pela promoção de cursos de capacitação na área de surdocegueira, promoção
de eventos e produção de impressos informativos.
O tema "Surdocegueira" será abordado em encontro latino americano
que acontece de 28 a 31 de outubro na Universidade Mackenzie de São Paulo.
É aberto e os organizadores esperam receber mais de 300 pessoas.
Serviço
Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial:
(11) 5579.5438 ou 5579.0032.
Abrasc: (11) 3342.2108
Adefav: (11) 3342.2108
Ahimsa: (11) 5579.5438
Abrapascem: (11) 5083.2721
Centrau: (41) 345.9844
Escola Anne Sullivan: (11) 4220.3638
Instituto Benjamin Constant: (21) 2295.2543
|